Mais alguns esclarecimentos sobre "Mente-me e seremos mais felizes".
Paulo Kellerman é autor de sete peças, duas óperas e uma curta-metragem. Publicou vinte e dois livros em diversos géneros literários. Concebeu, coordenou ou participou em projectos com dezenas de criadores das mais diversas áreas artísticas. É responsável pelo projecto Fotografar Palavras, que desde 2016 envolveu mais de 330 criadores (fotógrafos e escritores) de 35 países, e foi co-fundador da editora Minimalista. Recebeu o Grande Prémio do Conto da Associação Portuguesa de Escritores.
Mente-me e seremos mais felizes
Banda sonora
(O quarto é
apenas iluminado pelo luar que entra através da janela aberta; a brisa agita a
cortina, provocando um sussurro desagradável. Fazem amor, de forma enérgica;
ela contorce-se e geme num tom desprendido e gutural, inconsciente,
ligeiramente excessivo; ele mantém-se em silêncio, movendo-se ritmadamente e
respirando com dificuldade. Quando chegam ao fim, ela grita, descontrolada e um
pouco – só um pouco – histérica, totalmente entregue ao orgasmo; ele está
silencioso e rígido, de olhos cerrados, deixando-se apertar por ela. Permanecem
uns segundos abraçados, controlando as respirações, à espera que os corpos
serenem; depois, por iniciativa dele, separam-se.)
ELA (num
tom ofegante e desprovido de emotividade): Hoje, foi bastante bom. (Ri,
um pouco eufórica.) Mesmo bom.
ELE (num
tom seco e acusatório, desnecessariamente agressivo): Mas é preciso fazeres
tanto barulho?
(Ela suspira
ruidosamente, um pouco magoada; afasta-se dele e vira-se para a janela, ficando
a olhar para a cortina esvoaçante. Ele permanece imóvel e silencioso, tentando
serenar a respiração, talvez temendo que ela reaja e o acuse de qualquer coisa
inesperada, provoque uma discussão, force um diálogo; mas pouco depois,
adormece. Ela mantém-se imóvel e de olhos abertos, muito abertos: escutando o
ressonar dele, barulhento e opressivo; insuportável.)
Disponível nas seguintes livrarias online:
Mente-me e seremos mais felizes
Mentiras em papel pardo
TU: Estava a pensar no dia em que nos conhecemos,
lembras-te? Naquela tasca estranha para onde nos arrastaram, os dois para ali
com cara de seca, sem nenhuma vontade de ficar. Não nos conhecíamos de lado
nenhum mas tinhas isso em comum: a cara de seca. E então tu, já no fim da
noite, rasgaste um pedaço daquele papel pardo que cobria as mesas, escreveste
lá o teu número de telemóvel e deste-me o papelinho, com um sorriso
envergonhado nos lábios.
EU: Sorriso nos lábios mas a mão a tremer. Como
poderia não lembrar?
TU: Estava a pensar que teria sido uma grande sorte
se a porcaria das mesas não tivessem aquelas toalhas de papel. Muitas mentiras
teriam sido evitadas, muitos equívocos, muita infelicidade. Muito tempo que não
se teria perdido.
Disponível nas seguintes livrarias:
Amazon, Apple Store, Barnes & Noble, Fnac.pt, Gato
Sabido, Google, IBA, Kobo, LeyaOnline, Livraria Cultura, Submarino, Wook
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