Artista a solo


Fotografia: Cristina Vicente

Baci Sospesi Leiria

II

Gostava de caminhar pelos passeios repletos de gente e tocar em pessoas desconhecidas.
Seguindo um instinto indefinido, uma completa e absoluta falta de lógica ou racionalidade: tocava alguém e sorria-lhe; depois, seguia o seu caminho. A maioria das pessoas retraía-se, como se acabasse de sofrer uma agressão; outras reagiam de modo quase violento; algumas sorriam; pouquíssimas tocavam de volta, sorriam de volta.
Se alguém lhe perguntasse o que estava a fazer (e as poucas pessoas que perguntavam faziam-no de modo agressivo, sem qualquer interesse em escutar a resposta), poderia explicar que ao tocar os outros procurava conectar-se com a humanidade existente em cada um, tecendo uma linha de toques como alguém desenha um mapa dos sítios por onde passou, onde permaneceu, onde sentiu que verdadeiramente existiu.
Diria a quem perguntasse porquê: como aqueles postes de electricidade, sabes? Todos ligados entre si para que a electricidade esteja em circulação de forma contínua, e seja usada por quem dela precisar. Tu és um desses postes, eu sou um desses postes; e agora estamos ligados nessa rede ininterrupta por onde circula a nossa energia elementar, a humanidade.
Entendes?
Eventualmente, acabou por ser detida pela polícia.