"Vi e ouvi este texto pela primeira vez na voz e interpretação da Cátia Ribeiro e da Ana Padrão em 2023. Lembro-me de, no final da performance, estar de lágrimas nos olhos e de sorriso no rosto. Quando o convite para esta peça surgiu, senti responsabilidade, medo e tantas ganas de dar voz e corpo a estas palavras! O texto do Paulo e os poemas da Cátia são de uma humanidade tremenda. Hoje, num espetáculo minuciosamente montado por camadas, sou uma das mães. A mãe doce, a mãe vulnerável e sensível e, ao mesmo tempo, honesta e transparente. Tem muito de mim esta mãe, talvez por isso esteja a ser uma viagem tão alucinante a lugares escuros de dentro. Mas acredito que tem muito de muitas mulheres também. Muitos gritos contidos, muita revolta, muita vida! “O Diário de quem ficou” é simultaneamente um diário de guerra e de morte e um diário de vida e de esperança. É um despertar! E faz tanta falta que cada um de nós seja como esta mãe, uma vela que acordou vulcão! É esta parte de que gosto mais: o despertar. Percebo-o agora. O incendiar da vela até à explosão da mulher-vulcão! (suspiro) sou apaixonada por este texto. Sinto orgulho desta mãe." ANDREIA MATEUS
"Não sei bem o que dizer sobre o “Diário de quem ficou”. Sinto que, por mais que fale, nada fará jus ao magnífico texto nem ao que vivi durante a criação do espetáculo. Sou a mãe que perde o filho para a guerra, sou a mãe que viveu oprimida na sombra do marido e presa no tempo das desigualdades, sou a mãe que grita, em silêncio, por uma revolução. O “Diário de quem ficou” é opressão e liberdade, é uma peça que nos obriga a abrir os poros entre a palavra medo, de tão dura realidade e a palavra abraço, tanta a vontade de amor de qualquer uma das mães ali representada. Este cordão de palavras entrou-me no corpo, apertando os rins, o fígado, o estômago, e finalmente o coração estrangulado num laço que se aperta entre horrores e afetos. Vale a pena assistir, há um assombro que nos acossa a alma e que é preciso, talvez hoje, mais do que nunca." LILIANA SILVA
"Em “Diário De Quem Ficou” sou o soldado que foi para a guerra, que não teve coragem de fugir. Sou o filho que procura a aprovação de uma mãe que vive na espera e no medo de o perder. Construir a personagem obrigou-me a explorar não só o conflito externo da guerra mas também as batalhas internas que travamos nas nossas vidas: a ausência, a distância e a incapacidade de expressar sentimentos que tantas vezes se tornam tão dolorosos como os tiros e a morte. Pelo meio da narrativa, a minha namorada escrevia poemas e morre. Parece uma metáfora para essas batalhas internas, uma presença quase fantasmagórica que vem sublinhar a fragilidade das nossas vidas e a injustiça do destino. Esta história vem-nos lembrar de que, mesmo na escuridão, o amor e a arte podem oferecer um vislumbre de beleza e esperança, tornando-a profundamente comovente e universal." EMANUEL JACINTO
(FOTO: Cristina Vicente)