ELE (num tom nostálgico, quase triste): Antes, havia manhãs em que acordava leve, vazio: pronto a deixar-me preencher com o que o mundo tivesse para oferecer. (Pausa breve.) Optimista.
EU (um pouco – só um pouco – incrédulo): Optimista, tu?
ELE (pensativo): Sim, optimista; com fé e vontade, com desejo de vida. (Pausa breve.) E a primeira coisa que gostava de fazer era espreitar o céu; ver aquele azul imaculado e sem fim, iluminado pela luz mágica e misteriosa do sol da manhã; descobrir uma nuvem branca aqui, outra ali. E pensar: que dia tão bonito. (Sorri, para si mesmo. Pausa breve.) Deixava a mente vaguear, entretendo-me com pedaços de sonhos ainda não totalmente desvanecidos, misturados com intenções vagas, fantasias indefinidas; sempre sem desviar os olhos do céu, da imensidão libertadora. Não sei. Acho que o céu, para mim, sempre representou uma espécie de catálogo de oportunidades; como se todas as possibilidades, todas as escolhas, estivessem ali, à distância de um olhar. À minha espera. (Pausa breve.) E o tempo a passar; de longe, acabava sempre por chegar um qualquer ruído do mundo, um vestígio de vida, de outra vida: os inevitáveis indícios de que sob o azul do céu, o mundo continuava a rodar, lento, monótono, triste; recusando-se a parar, a desistir; mas caminhando sempre na mesma direcção, sempre com o mesmo objectivo: atingir o ponto de partida; recomeçar; repetir. (Pausa breve.) E lentamente, sentia-me desanimar; sentia o optimismo dissipar-se; de repente, o céu começava a parecer-me opressivo; as escolhas mesclavam-se e confundiam-se. Perguntava-me, acabava sempre por me perguntar: para que servem os dias bonitos, afinal?
EU (num murmúrio): Para nada?
ELE: Alguma vez sentiste o desgosto de acordar com um belíssimo dia pela tua frente e não saberes que lhe fazer, como o aproveitar? Perceberes que, irremediavelmente, o vais deixar fugir, como sempre fizeste antes? Perceberes que irás perder mais uma oportunidade e que, na verdade, não sabes se terás outra, se haverá outro dia bonito na tua vida?
(Sorrio, com tristeza; e essa é a minha única resposta. Lá fora, vai anoitecendo muito lentamente; pergunto-me se aparecerá a lua. Penso, quase distraidamente: talvez amanhã volte a ser um dia bonito.)
ELE (displicente, quase arrogante): E então, um dia, deixei de olhar para o céu. (Pausa breve.) Que se foda o céu.
EU (um pouco – só um pouco – incrédulo): Optimista, tu?
ELE (pensativo): Sim, optimista; com fé e vontade, com desejo de vida. (Pausa breve.) E a primeira coisa que gostava de fazer era espreitar o céu; ver aquele azul imaculado e sem fim, iluminado pela luz mágica e misteriosa do sol da manhã; descobrir uma nuvem branca aqui, outra ali. E pensar: que dia tão bonito. (Sorri, para si mesmo. Pausa breve.) Deixava a mente vaguear, entretendo-me com pedaços de sonhos ainda não totalmente desvanecidos, misturados com intenções vagas, fantasias indefinidas; sempre sem desviar os olhos do céu, da imensidão libertadora. Não sei. Acho que o céu, para mim, sempre representou uma espécie de catálogo de oportunidades; como se todas as possibilidades, todas as escolhas, estivessem ali, à distância de um olhar. À minha espera. (Pausa breve.) E o tempo a passar; de longe, acabava sempre por chegar um qualquer ruído do mundo, um vestígio de vida, de outra vida: os inevitáveis indícios de que sob o azul do céu, o mundo continuava a rodar, lento, monótono, triste; recusando-se a parar, a desistir; mas caminhando sempre na mesma direcção, sempre com o mesmo objectivo: atingir o ponto de partida; recomeçar; repetir. (Pausa breve.) E lentamente, sentia-me desanimar; sentia o optimismo dissipar-se; de repente, o céu começava a parecer-me opressivo; as escolhas mesclavam-se e confundiam-se. Perguntava-me, acabava sempre por me perguntar: para que servem os dias bonitos, afinal?
EU (num murmúrio): Para nada?
ELE: Alguma vez sentiste o desgosto de acordar com um belíssimo dia pela tua frente e não saberes que lhe fazer, como o aproveitar? Perceberes que, irremediavelmente, o vais deixar fugir, como sempre fizeste antes? Perceberes que irás perder mais uma oportunidade e que, na verdade, não sabes se terás outra, se haverá outro dia bonito na tua vida?
(Sorrio, com tristeza; e essa é a minha única resposta. Lá fora, vai anoitecendo muito lentamente; pergunto-me se aparecerá a lua. Penso, quase distraidamente: talvez amanhã volte a ser um dia bonito.)
ELE (displicente, quase arrogante): E então, um dia, deixei de olhar para o céu. (Pausa breve.) Que se foda o céu.