Foi uma tarde muito agradável, tão agradável que ambos gostariam que não terminasse; mas, inevitavelmente, chegou o momento da despedida, da separação. Então, ele disse (sem a olhar, sem se aproximar): “Se isto fosse um filme, daríamos agora o nosso primeiro beijo.” Ela olhou-o um pouco surpreendida, um pouco confusa; aproximou-se dele muito devagarinho e deu-lhe um estalo, violento e ruidoso. Levantou-se e saiu, sem se despedir, sem olhar para trás.
Ele encolheu os ombros e acendeu um cigarro, perguntou-se quanto tempo demoraria a desaparecer a mancha vermelha que certamente teria na face; olhou para a porta por onde acabara de sair a sua quase-amante e convenceu-se de que nunca mais a veria; pensou: “Foda-se, três semanas de trabalho para nada.” Depois, quando o cigarro terminou, pegou no telemóvel e ligou para casa; foi o menino que atendeu. “Avisa a mamã que, afinal, posso ir jantar a casa, está bem?”, disse ele. “Fixe.”, respondeu o garoto.