“Paulo
Kellerman nos asoma, a lo largo de los veinte cuentos que componen Los
mundos separados que compartimos, al abismo más peligroso al que puede
asomarse el ser humano, el interior. A través de una narrativa limpia y de una
gran cadencia poética, desgrana la nostalgia de lo no vivido, la contundencia y
significación de los silencios, las preguntas últimas sobre la latencia del
desamor. Cada relato es una mirada a la duda y una puesta en jaque de la
relación amorosa; los personajes parecen transitar de un cuento a otro con
astutos movimientos y sólo cuando ellos quieren somos conscientes del trasvase.
Hombres y mujeres se abren paso hacia sus paradojas y sus miedos, se retan a sí
mismos, se condenan o se regalan nuevas oportunidades. Maestro del diálogo
íntimo, Kellerman nos presenta en este catálogo de soledades todas las
posibilidades de acercamiento a esos mundos separados que compartimos.”
Paulo Kellerman é autor de sete peças, duas óperas e uma curta-metragem. Publicou vinte e dois livros em diversos géneros literários. Concebeu, coordenou ou participou em projectos com dezenas de criadores das mais diversas áreas artísticas. É responsável pelo projecto Fotografar Palavras, que desde 2016 envolveu mais de 330 criadores (fotógrafos e escritores) de 35 países, e foi co-fundador da editora Minimalista. Recebeu o Grande Prémio do Conto da Associação Portuguesa de Escritores.
Gastar palavras / Fotografar palavras
A estória “Gastar Palavras” fotografada por Tina Azinheiro para o
ebook “Fotografar Palavras”, a disponibilizar em breve.
07h45
Custa-me tanto acordar.
Antes, era um momento mágico: um mundo de possibilidades pela
frente, caminhos a percorrer, aprendizagens, dores e obstáculos e
incompreensões a superar, partilhas; cada acordar era um nascimento, a
descoberta deslumbrada da imensidão da vida. Como olhar um mapa que incluísse
todos, mas mesmo todos, os caminhos existentes no mundo, todas as pequenas
estradas e atalhos e ruelas e avenidas e becos sem saída; olhá-los, sem pressa,
saboreando a indecisão, e escolher: hoje, vou por aqui. E ir.
Agora, adormecer é que é o momento mágico. Adormecer significa
adiar e esquecer. Durmo muito, preciso de dormir muito: são esses os únicos
instantes em que não sofro. Tudo se mantém, nada muda enquanto durmo; mas
dormindo, consigo não pensar nisso, consigo ignorar. É a única fuga que me
resta e estou, em cada dia que passa, mais dependente dela. Durmo, vou fugindo.
Fujo da dor de pensar. Então, acordo: e eis a minha vida, à espera. É (também)
como nascer: e descobrir uma cortina intransponível (nem importa se
transparente ou não; é indiferente se há algo para além da cortina porque a
impossibilidade de a ultrapassar é uma certeza absoluta); nasce-se e não se
está perante um princípio, nem sequer perante um fim; abro os olhos e tudo o
que vislumbro é um impasse, uma impossibilidade, uma incongruência. Abro-os; e
de imediato, volto a fechá-los. E a incapacidade de os manter assim, cerrados,
causa uma dor nova, acrescenta o sofrimento.
Acordo, agora. E o meu primeiro pensamento é: quando poderei
voltar a dormir?
08h13
Caminho pelo apartamento. O branco das
paredes agride-me, fura-me os olhos. Apetecem-me quadros, cores, janelas para a
salvação; distracções. Este assobio constante que é o ruído do silêncio
causa-me dores de cabeça; e desejo barulho, agitação. Há momentos em que penso:
um grito de alguém seria o suficiente para me salvar. E olho em redor, em busca
de quem possa gritar. Procuro, sabendo o que encontrarei. Penso: sabemos sempre
o que vamos encontrar e mesmo assim procuramos; porquê? Vou à casa de banho, porque
aí as paredes são beges; sempre é um branco diferente. Depois, olho-me ao
espelho. Frente a frente com alguém, que até poderei nem ser eu. E canso-me. O
silêncio perseguiu-me, aí está: ruidoso. Desejo barulho; e ligo a televisão,
automaticamente começo a trautear as músicas publicitárias que vou ouvindo.
Sento-me a comer o pequeno-almoço, feito de cereais. Engulo com indiferença.
Trauteio. Vejo como o sol vai avançando pela janela, agredindo-me com a
luminosidade da sua existência. Agora, resta vestir-me e sair pelo mundo, por
aí fora. Penso: tenho quase meia hora para escolher a gravata.
08h53
Por vezes, julgo-me especial. Penso: sou especial. E acredito.
Nada de extraordinário, essa especialidade. É apenas uma
consciência não muito racional que por vezes vem e se insinua, murmura junto ao
ouvido: tens, em ti, lá dentro, lá fundo, algo para dar. Algo que até pode ser
muito. Mas algo, para oferecer. Quero dar, sinto que posso dar. Nem sei o quê,
na verdade não importa muito. Poderá ser apenas companhia ou compreensão ou
carinho ou amor. Mas quero tanto dar. Provocar sorrisos. Ou até recolher
lágrimas (as lágrimas são sempre pedaços de alma, provas de libertação, de
entrega, de confiança; rastos de amor. Gostaria de andar pelo mundo e provocar
choro; então, recolheria as lágrimas, e com elas formaria um oceano, um novo
oceano. E esse oceano, constituído por pedacitos das almas de todos os homens,
formaria uma alma gigantesca, que seria a alma do mundo; que seria, em
simultâneo, de todos e todos.)
É isso que penso, que desejo: apetece-me dar; e sinto que posso.
Depois, olho em redor, pergunto: mas quem receberá? (Novamente: uma cortina.)
Muitas vezes, sinto-me pateta: como se fosse um daqueles loucos que percorrem
as ruas das cidades com tabuletas penduradas ao peito, anunciando o fim do
mundo; a minha tabuleta diria: dá-se amor. E andaria pelas cidades, exibindo-a,
esfregando-a nos olhos de quem passasse. Para nada; porque ninguém diria: dá-me
amor, que eu preciso.
E então, penso: não, não sou especial. E acredito.
10h37
O que mais me custa neste emprego de vendedor de automóveis é ter
de sorrir tanto. Aquela velha conversa pateta do palhaço que tem de mostrar alegria
estridente quando sente dor lancinante. Sorrio, muito sorrio eu. E esta gente
cega deverá pensar: que alegre e feliz é este homem. Ouço os lamentos, detecto
os sonhos. Tagarelices inconsequentes. E falo das cilindradas e das cores
metalizadas e das jantes em liga leve. Digo: hoje em dia, os carros são feitos
para durarem uma vida. E recebo a resposta em forma de acenos de cabeça. Passo
horas a repetir cassetes, com indiferença, disfarçando o ódio com sorrisos. Por
vezes, dizem-me: que gravata tão bonita. Sorrio e falo da minha colecção de
gravatas. Faço-o com entusiasmo, invento entusiasmo. E tenho a certeza que toda
esta gente pensa: que rapaz tão feliz. E eu grito-lhes, em silêncio: cegos dum
caralho.
13h01
Almoço todos os dias no mesmo restaurante. Já me conhecem, aqui.
Sorriem-me muito. E eu sei: para eles, é só trabalho, é um sorriso
profissional; o sorriso que exibem quando me dão o prato com as batatas e a
carne e o ovo e a alface é o mesmo, exactamente o mesmo, que eu exibo, quando
falo de suspensões e consumos e alarmes. Penso: agora, sou eu o cego. Finjo não
perceber. Todos aceitámos esta regra primária da civilização: fingir não
perceber o sofrimento dos outros. Ignorar. E então, rio alto. Eles sorriem e eu
rio. Falamos, somos joviais. Espirituosos. Eles dizem: és um tipo mesmo
porreiro. E eu concordo. Mas sei o que eles pensam, na verdade: cego dum
caralho. É o que eu também penso, deles, de mim. Somos sempre os mesmos, o
mesmo, dia após dia. Sorrimo-nos tanto; e nada sabemos uns dos outros. Não sei
porquê mas nem curiosidade sentimos. Representamos as nossas comédias, falamos
de banalidades, sorrimos tanto. Mas não conhecemos nada, não partilhamos nada.
Podemos estar a morrer de dor, de solidão, de desespero; mas enrolamos sempre
as batatas fritas em sorrisos e engolimo-las com a nossa dor. Dor que amarga,
sempre; mas que disfarçamos: com mais sorrisos. Tão estranho, isto. O que
precisamos, todos nós, é de um simples abraço. Mas recusamos pedi-lo, dá-lo.
Sentimos vergonha, embaraço. Não encontramos conforto no facto de partilharmos
as mesmas dúvidas, as mesmas angústias. Somos incapazes de estender a mão,
abrir a mão. Todos sentimos que temos algo para dar, queremos dar, queremos
desesperadamente dar, qualquer coisa, a alguém. Mas temos medo, somos tolhidos
por um estranho e dilacerante medo, que nos inibe, que nos controla. E então,
tudo o que fazemos é sorrir. Sorrimos. Disfarçamos o medo. E aprendemos a
odiar, odiar com todas as nossas forças, as pessoas que nos sorriem. É também
uma maneira de nos odiarmos.
16h42
Isto é o que sinto, ultimamente: que a minha alma diminui. Que vai
encolhendo e encolhendo e encolhendo. Tenho medo que, assim, desapareça. E
pergunto-me o que será de mim, sem alma. Depois, há alturas em que me revolto.
E penso: mas se eu já sou um simples pedaço de carne... e sou incapaz de
completar o pensamento. Sim, admito: a minha vida é pouco diferente da
existência de um poste de electricidade. Ergo os meus braços, segurando os fios
que conduzem a electricidade que alimenta o mundo; momentos de arrogância, em
que me julgo útil. Mas, na verdade, sei, admito: que a electricidade existe sem
mim, para além de mim; que sou apenas um instrumento, facilmente substituível.
Há acontecimentos que passam através de mim, pequenas banalidades
angustiosamente irrelevantes (acuso-me: sou um instrumento da banalidade; ou
nem isso, menos que instrumento, menos que veículo.); mas, se eu não estivesse
lá, estaria outro poste, o que mais existe são postes.
Mas preocupa-me, isto. Ainda me preocupa. Há camadas de alma que
vou perdendo, isso sinto. Devagarinho, suavemente. Sem dor (e isto, espanta-me
um pouco). Como se a alma fosse feita de translúcidas camadas de água; e por
vezes, uma camada desaparecesse, assim, simplesmente. Evaporou. Transformou-se
noutra coisa. Era substância, agora é... não sei: vapor. Ou fantasma. Sim,
talvez isso: aos poucos, a minha alma morre, transforma-se em espírito
de alma, fantasma de alma. Sinto isso: e perturbo-me. Custa-me, ser
assim habitado por fantasmas. Custa-me, estar assim a evaporar, aos
poucos.
E se alguém perguntasse: quem és? Responderia: um poste de
electricidade com um fantasma de alma dentro?
21h17
O pior é não apetecer.
Não ter vontade nem desejo, não querer nada. Acontece-me muito,
agora. Não apetece. Nada apetece. Não sinto vontade de nada. Espero, apenas. Ou
nem isso: por vezes, não espero nada. Basta a passagem do tempo. No máximo,
espero nada; e esperar nada é estar morto, vegetando. Como morto: é assim que
me sinto, tanta vez. Prisioneiro da indiferença; pior: apreciando a
indiferença. Sinto-me doente, sei que é uma doença; mas sou incapaz de me
contrariar. Pergunto-me, sempre, tanta e tanta vez: para quê?
Forço-me. Tento pensar em coisas boas. Pedaços de felicidade. Nada
de especial, porque a felicidade não é nada de especial; a felicidade é, muitas
vezes, simplesmente conseguir sentir, derrotar por momentos a indiferença, a
anestesia, o torpor. A felicidade pode ser, tantas vezes, apenas conseguir
sentir. E então, evoco recordações. Momentos em que consegui sentir qualquer
coisa. Banalidades: o sabor de um gelado, o brilho do sol num fim de tarde
de Verão, uma carícia na perna, o som de um riso, um passeio na beira de um
rio, o ladrar de um cão, a sensualidade de uma palavra escrita à mão numa folha
de papel, o toque ansiado de um telemóvel, um passeio de carro sem destino nem
objectivo nem fim, um olhar que não se desvia, crianças a brincar, ter um
jornal na mão. Coisitas que me encheram, preencheram o vazio. Penso nelas,
tento recuperar a sua consistência. Faço força. Mas não resulta, já não
resulta. Apenas memórias indefinidas, voláteis. Perdidas. Tento tocar-lhes, mas
elas passam-me através dos dedos; fantasmas.
E volta a não apetecer. Nada, nem sequer tentar.
23h37
Acabei de fazer amor. Comecei por despir-lhe a lingerie, aquela
azul e semi-transparente, depois fui percorrendo-lhe o corpo com a língua,
acariciando, molhando, provando. Movimentos frenéticos, gestos desastrados.
Passou muito tempo; e agora há cheiros insinuados e nuances de escuridão,
movimentos tímidos, simulacros de partilha. Dantes, dava importância a isto: a
minha vida dependia disto. Agora, há
apenas cansaço. Ou nem isso: resignação. Ela adormeceu, enroscada em mim. De
repente, ressona. E acho isto bonito. É bom descobrir imperfeições nos outros:
lembramo-nos assim que também somos imperfeitos. E partilhar os defeitos é uma
forma superior de amor. Imagino-me a dizer, não sei a quem, não importa a quem:
amo-te porque ressonas, porque tens manchas na pele, porque és egoísta.
De qualquer modo, penso que ainda a amo. Muito. Ou o suficiente.
Penso nisto, durante muito tempo; depois, adormeço.
01h13
Custa-me falar. Custa-me dizer palavras que não conduzam a lado
nenhum, que não originem intimidade, que não toquem; E por vezes, penso:
vou gastando as minhas palavras, assim, desapaixonadamente,
desinteressadamente; e quando precisar mesmo delas – ainda acredito que esse
dia chegará –, descobrirei que se me acabaram; procurarei dentro de mim e não
encontrarei; apenas o vazio estará lá: maior que hoje. E preocupo-me: porque
não sei onde se podem ir buscar palavras, não sei se é possível obter e usar
mais palavras que aquelas que nos dão à nascença (nascemos apenas com dois
olhos, e assim temos de sobreviver; nunca ninguém pensou partir pelo mundo, em
busca de mais olhos, por achar que dois são insuficientes).
Por vezes, gosto de imaginar que as palavras nascem nos ramos de
uma árvore misteriosa, uma árvore milenar que existe desde o início dos tempos,
que nunca morre (árvores que são, também colunas: que de algum modo sustentam o
mundo); gosto de imaginar que há planícies imensas serpenteadas destas árvores
e que, por vezes, algumas pessoas podem passear-se entre elas e colher as
palavras que desejam. Como meninos, brincando num laranjal, num fim de tarde de
Primavera.
Também já houve alturas em que pensei: as palavras vêm do mar.
Existiriam entre as ondas, envolvidas pela água. Como bebés, nas placentas das
mães. Nascendo, a todo o momento: formas invisíveis soltando-se com ternura da
água, sacudindo a espuma, e flutuando nas costas do vento, por aí. A atmosfera
estaria repleta delas, infinidades de palavras virgens, ansiosas por serem
ditas, gritadas, segredadas; ou adiando o propósito da sua existência, o
momento em que alguém as pega e, envolvendo-as na humidade da garganta (outra
placenta), extrai o som que é a sua essência, esvaziando-as.
Penso (pensar não consome as palavras) muitas coisas, assim. E tenho
pena de não poder falar disto a ninguém, não ter as palavras necessárias em
mim. Sinto-me deficiente: nasci com défice de palavras.
Não percebo para que estou a gastá-las contigo.
Fotografar Palavras
Está quase pronto um novo ebook. Desta vez, a fotógrafa Tina
Azinheiro pegou no livro “Gastar Palavras” e transformou-o em “Fotografar
Palavras”. Foram seleccionados excertos de cada um dos contos do livro e,
depois, criadas imagens específicas. O ebook incluirá as fotografias e os
excertos seleccionados, bem como alguns contos integrais.
Será gratuito, como sempre.
“Em cada uma das imagens insuflarei um pedaço de alma.
Construirei fantasias, imaginarei existências, inventarei vidas. E depois, um
dia, poderei vivê-las.”
Costela
Anyone wants dessert?
Um pequeno divertimento: apeteceu-me recriar
uma estória minha em inglês. Cá aguardo os inevitáveis protestos. Mas valeu a
pena, que foi uma experiência curiosa. (Agradecimentos à Cláudia Mamede, que
pacientemente reviu e sugeriu.)
They have been talking to each other since we arrived at the restaurant,
totally oblivious of my presence. I'm eating without appetite or pleasure,
trying to disguise the weariness, the enormous boredom, I feel since I laid my eyes on their faces
two hours ago. Sometimes I look at the tables around, just for a
second, searching for something to distract me; someone equally alone and
miserable (an ally of some sort: a distant and silent one but, nevertheless, an
ally); in search of a sympathetic look or a supportive sign, a reminder that
I’m not alone. Meanwhile: they’re talking, I’m forgotten.
But then, the most surprising thing happens: I start to talk, interrupting
my mother at the middle of a sentence. She is complaining about some neighbor
she caught on the elevator doing something inadequate or strange or repulsive and,
suddenly, completely overwhelmed and confused, she stops herself, looking at me
almost in shock, probably asking what the hell is happening, since when can she
be cut off by me. Could it be an emergency?, she probably wonders, fearing some
unexpected and unpredictable news.
“Do you remember when I was a kid and you used to took
me to the park?”
They look
at me, confused and bewildered; just as confused and bewildered as I am: this
is, in some way, also a surprise to me. Why am I talking to them, for what
purpose? Why don´t I just shut up, like I have been doing all my life? Why
isn’t my mouth filled with food? What will I say next?
“I ran all
over the place, wandering around in the swings and slides, or by the little
lake, playing by myself, looking and searching and learning, imitating all the
other boys, always wondering when would I start to feel excited and delighted
and happy, just as I was supposed to.”
They’re
still looking at me, astonished (at least, I think they’re astonished); looking
for some clue, expecting some sort of explanation, trying to remain calm, to act
reasonably. Maybe realizing, for the first time, that they don’t know anything (anything
that matters) about
their own son?
“And you were always spinning around me, remember? Always
shooting at me with your cameras, both of you with your big and expensive and
shinning and precious cameras; not just one of you, like the parents of the
other children, but both of you had cameras pointing at me, pursuing me all the
time, recording my shyness, my awkwardness, my loneliness. And I felt… Well, I
suppose I felt ashamed and embarrassed but, most of all, I felt puzzled. Because
I couldn’t understand the purpose of so many pictures, the reason of such
commitment and intensity and obsession, as if you were in some kind of mission.”
Now, they’re listening, really listening; and remembering. So, I keep
talking; I can’t stop myself; I can’t and I won’t. I’m talking to my parents, finally; and liking it: because they´re
silent, they don’t know what to say, how to react; they’re just listening to
me. And it feels good to taste the power of my own words.
“You never talked to me, never smiled at me, never asked me if I was tired
or thirsty or bored, if I needed something. Instead, you just took pictures of
me: hundreds and hundreds of photos. And then, when you were done with
photographing, or maybe when your memory cards were full, I don’t know, you… Do
you remember what you did?”
The restaurant is (seems to be) very quiet, very peaceful; nobody
argues, nobody laughs, nobody moves, nobody cares. But, after all, what are all
these families doing here, eating in silence and looking at the walls? Why they
insist in remaining together, if there’s nothing more to say, to ask, to
listen? What are they trying to prove? Well, I think to myself, maybe
restaurants are some kind of public Prozac for family relationships:
everybody’s watching so try to stay calm, to behave, to be reasonable; just
take it easy, darling, we can (we will) argue at home, where nobody will listen
or judge, where we can hurt each other in so many ways, for so many times. Now,
please enjoy this small break and don’t make a scene. Ok, darling?
“Well, you just forgot about me. You went to some
quiet place and talked about the pictures you took, comparing and discussing them. Do you remember? I do,
I surely do. I remember how you stood there, laughing and talking, completely
forgotten about me, showing each other all those photos, probably choosing your
favorites, deleting the worst ones. You never showed them to me, you never
showed me my own pictures. Ironic,
isn´t it? Never, not once. And you never asked my opinion about them, either; they
were your own business, just your own business, not mine. Those pictures
represented me, they replaced me; they were, they seemed to be, a little, just
a little, more important to you than me.
In a way, you loved the photos, not the model.”
I look at them (first at my father then at my mother and then at my
father again): and I smile. Can a smile hurt? I expect so.
“You talked about my pictures and about me, over and
over, endlessly. Yes, I know you never got tired of talking about me. But
you never talked to
me. Never.”
I shut up,
finally; there´s nothing more to say. I look at them as I remember those sunny
Sunday mornings at the park; and I see myself running (sometimes falling: but
never crying), I see my parents with their cameras, shooting at me (as if they
were in some kind of hunt; hunting
me down); I see them holding their cameras with care and almost
tenderness, deleting all those failed pictures of me: pretending (fantasizing,
believing, wishing?) that they were really deleting me from their lives and not
just some photos from their cameras.
So: here
we are, after all these years, at this silent restaurant. And now, what
happens? As I wait for some reaction (no matter what, just some kind of
reaction; anything), I pick up my fork and resume eating; yes, eating: putting food in my mouth and swallowing it; just that,
nothing more; repeating mechanic gestures, like a robot; repeating animal
gestures, like a puppy or a little cat; wondering, as always: am I just some
insignificant part of the scenery? Will I always be?
“Anyone wants dessert?”
I look at my father, asking myself if he heard a single word I just
said. And then, not a second later, I decide that it doesn’t matter, nothing
really matters anymore (never did?), and I try to relax, I impose myself the
obligation to relax, to let it go, to forget everything, to enjoy this little
public Prozac. Then I look at my mother, who’s certainly wondering about dessert,
and I start to think, to think very very hard, as if my life depends on my
decision, which dessert to choose. What will it be?
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