Oxigénio


ELA: Porque foges?
ELE: Não fujo, porque sou livre. Nada me prende.
ELA: Não percebes que a vontade de estar sempre a partir para outro lado é uma forma de prisão?
ELE: Prisão é olhar sempre para o mesmo pedaço de céu.
ELA: Não percebes que nunca serás livre enquanto não te sentires bem no sítio em que estás, com o céu que tens?
ELE: Sinto-me a asfixiar aqui. Preciso de respirar melhor, preciso de respirar outro oxigénio.
ELA: O oxigénio é igual em todo o lado. Tu é que não sabes respirar. Não sabes apreciar o oxigénio. Não percebes nada de oxigénio.

Até as pedras precisam de raízes
Ópera na Prisão | SAMP, 2025 | Fotografia: Joaquim Dâmaso

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Jornal de Leiria. Em papel ou online.

Cruzar as pernas pela oitava vez





Cruza as pernas como uma rainha
Uma produção Nem Marias Nem Manéis
Fotografia de cena: Cristina Vicente

20 anos

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A casa que (ainda) temos dentro

- Onde me sinto em casa? Na natureza. É como vestir a roupa mais confortável de todas, tão confortável que nem a sinto, mas que me ampara e sustenta, que me acolhe e me protege. Não, melhor do que a roupa mais confortável: uma segunda pele. Para mim, a natureza significa isso: uma segunda pele.
- Onde me sinto em casa? Na memória. Onde guardo tudo o que fui. O meu museu íntimo.
- Onde me sinto em casa? Na solidão. Quando estou só eu, com os meus pensamentos e os meus silêncios, os meus medos e as minhas fantasias. Só eu e a minha respiração. Acho que casa é isso: poder sentir a própria respiração.
- Onde me sinto em casa? Na proximidade das pessoas que amo. As que adivinham o que penso sem ter de me confessar, as que sabem quem sou sem ter de me explicar, as que me consolam sem ter de pedir, as que me ouvem mesmo quando não falo.
- Onde me sinto em casa? No momento. Vivo em cada momento: é aí que está a minha casa, onde estou completo.
- Onde me sinto em casa? No toque. É isso que me faz sentir em casa: o toque.

(NMNM #6 | 23 de Janeiro de 2026)