Oxigénio


ELA: Porque foges?
ELE: Não fujo, porque sou livre. Nada me prende.
ELA: Não percebes que a vontade de estar sempre a partir para outro lado é uma forma de prisão?
ELE: Prisão é olhar sempre para o mesmo pedaço de céu.
ELA: Não percebes que nunca serás livre enquanto não te sentires bem no sítio em que estás, com o céu que tens?
ELE: Sinto-me a asfixiar aqui. Preciso de respirar melhor, preciso de respirar outro oxigénio.
ELA: O oxigénio é igual em todo o lado. Tu é que não sabes respirar. Não sabes apreciar o oxigénio. Não percebes nada de oxigénio.

Até as pedras precisam de raízes
Ópera na Prisão | SAMP, 2025 | Fotografia: Joaquim Dâmaso