(Escrito a partir de uma fotografia de Francisca Moreira)
- O que me incomoda no facebook é a efemeridade daquilo. Colocas lá uma coisa qualquer, que para ti é importante, e os teus amigos até reagem, dizem que gostam ou comentam ou partilham. Mas a verdade é que passados três minutos já ninguém se lembra, as pessoas dispersam a atenção e seguem em frente; o prazo de validade expirou quase de imediato, porque entretanto coisas importantes de outras pessoas foram aparecendo, reclamando atenção e likes. É como se as próprias pessoas, e não apenas as suas opiniões, tivessem prazos de validade muito limitados, estás a ver?; como se fôssemos pacotes de arroz ou assim, com os tais prazos bem visíveis na embalagem, e o facebook uma enorme prateleira.
- Hum hum.
- E se queres manter-te alive & kicking, do ponto de vista facebookiano, se não queres saltar da prateleira, tens que pensar bem depressa noutra coisa especial qualquer, que te permita reclamar a atenção perdida. Ou mesmo que não seja assim tão especial, pelo menos que pareça suficientemente especial para te manter no jogo durante mais três minutos. E por aí em diante, de três em três minutos, até ficares irremediavelmente sem coisas importantes para dizer; e só te restar pôr músicas.
- Yah.
- Talvez seja por isso que muita gente gosta do tumblr, não achas? Se quiseres, nem precisas pensar demasiado; basta pescar umas coisas por aqui ou por ali e ir passando-as, permitindo que elas te representem, falem por ti. Tal e qual como as músicas no facebook: o que te define não é tanto o que és ou pensas mas as escolhas que fazes. Mas claro que, na verdade, o resultado acaba por ser sempre o mesmo: um like, uma partilha, um comentário, e segue-se em frente. Enfim. Três minutos de atenção, é o máximo que os teus amigos te podem dispensar.
- Hum hum.
- E é triste. Triste e fodido. Principalmente, fodido. Mas muito triste, também.
- Pois é. Mas, desculpa lá: essa conversa toda vem a propósito de quê? Já nem me lembro. Estás para aí a falar de facebooks e pacotes de arroz há uns dois ou três minutos e perdeste-me. Perdeste-me, mesmo.