Eric Fischl - Untitled
(Permaneço deitada na cama, ainda nua; o prazer proporcionado pelo sexo já se dissipou há muito, deixando-me estranhamente apática e indiferente, quase desconsolada. Não me apetece mover, fechar os olhos ou mantê-los abertos, pensar; não me apetece aceitar que o mundo continue a avançar, levando-me consigo. Ouço-a sair da casa de banho, aproximando-se; não quero – não consigo – olhá-la mas sei que vem enrolada numa toalha. Talvez pudesse perguntar-lhe por que nunca se seca na casa de banho, por que motivo prefere fazê-lo junto de mim.)
ELA (num tom indiferente, como se falasse para si própria): Foda-se, que está outra vez a chover.
(Fecho os olhos e concentro-me momentaneamente no silêncio que preenche o quarto, enquanto respiro o cheiro a sexo que ainda perdura; depois, Ela liga a televisão e o silêncio é estilhaçado – mas o cheiro permanece, insidioso. Pergunto-me por que motivo não se aproxima mais, não me toca; pergunto-me, também, há quanto tempo terá deixado de me amar. Não me movo, insisto em não me mover, paralisada por um receio indefinido e persistente, supersticioso; Ela continua a secar-se, acariciando-se com indiferença. Será que me olha, apreciando o meu corpo? Duvido. Estou quase, quase a perguntar-lhe se faz ideia por que motivo nunca nos tocamos depois de fazer sexo, o que poderá significar isso; mas não o faço: temo a resposta.)
ELA (tom abrupto, um pouco acusador): Vais dormir?
(Não respondo; na verdade, apetecia-me dizer-lhe que me sinto como se andasse a dormir há anos, incessantemente. Ela acaba de se secar e aproxima-se da televisão, mudando o canal. De repente, sinto-me incapaz de me submeter uma vez mais à tristeza e desistir; apetece-me reagir, lutar, agredir.)
EU (sem me mover, sem a olhar): Porque vais sempre tomar banho, depois de fazermos sexo? (Hesito e sinto o seu olhar fixar-se em mim.) Seja ao acordar ou a meio da noite, seja à hora de almoço. Vais sempre. (Respiro fundo, tentando controlar-me. Apetece-me acrescentar: como se o banho fosse o teu verdadeiro orgasmo.) Porquê?
(Finalmente, sinto que estou a libertar-me da paralisia; movo-me ligeiramente e olho-a, sem agressividade mas também sem afecto.)
EU (tom cândido, quase nostálgico): Sentes-te suja, quando beijas o meu corpo? (Ela olha-me durante mais um instante, perplexa e insegura, incapaz de reagir; depois, desvia o olhar, devagarinho. Afasta-se, recuando um passo: pergunto-me se conseguirá voltar a olhar-me.)
ELA (num tom indiferente, como se falasse para si própria): Foda-se, que está outra vez a chover.
(Fecho os olhos e concentro-me momentaneamente no silêncio que preenche o quarto, enquanto respiro o cheiro a sexo que ainda perdura; depois, Ela liga a televisão e o silêncio é estilhaçado – mas o cheiro permanece, insidioso. Pergunto-me por que motivo não se aproxima mais, não me toca; pergunto-me, também, há quanto tempo terá deixado de me amar. Não me movo, insisto em não me mover, paralisada por um receio indefinido e persistente, supersticioso; Ela continua a secar-se, acariciando-se com indiferença. Será que me olha, apreciando o meu corpo? Duvido. Estou quase, quase a perguntar-lhe se faz ideia por que motivo nunca nos tocamos depois de fazer sexo, o que poderá significar isso; mas não o faço: temo a resposta.)
ELA (tom abrupto, um pouco acusador): Vais dormir?
(Não respondo; na verdade, apetecia-me dizer-lhe que me sinto como se andasse a dormir há anos, incessantemente. Ela acaba de se secar e aproxima-se da televisão, mudando o canal. De repente, sinto-me incapaz de me submeter uma vez mais à tristeza e desistir; apetece-me reagir, lutar, agredir.)
EU (sem me mover, sem a olhar): Porque vais sempre tomar banho, depois de fazermos sexo? (Hesito e sinto o seu olhar fixar-se em mim.) Seja ao acordar ou a meio da noite, seja à hora de almoço. Vais sempre. (Respiro fundo, tentando controlar-me. Apetece-me acrescentar: como se o banho fosse o teu verdadeiro orgasmo.) Porquê?
(Finalmente, sinto que estou a libertar-me da paralisia; movo-me ligeiramente e olho-a, sem agressividade mas também sem afecto.)
EU (tom cândido, quase nostálgico): Sentes-te suja, quando beijas o meu corpo? (Ela olha-me durante mais um instante, perplexa e insegura, incapaz de reagir; depois, desvia o olhar, devagarinho. Afasta-se, recuando um passo: pergunto-me se conseguirá voltar a olhar-me.)