Galeria # 07



Alberto Sughi - La Stanza del Tempo


ELA (num tom apático): Não podias sorrir um pouco?
(Ele interrompe a leitura, contrariado, mas não desvia o olhar do livro.)
ELE (cauteloso): Desculpa?
ELA (impertinente, sem o olhar): Sorrir, simplesmente. Uma vez por semana ou assim. (Tom quase impertinente.) Custava-te muito?
ELE (levantando os olhos do livro; tom cauteloso): Desculpa, não percebo.
(Ela suspira e recosta-se no sofá, talvez com vontade de chorar.)
ELE (pesaroso): Queres que eu sorria, mesmo que não tenha vontade de o fazer? Que finja? (Num tom inesperadamente mais afável, quase carinhoso.) Preferirias assim? (Hesita.) Que eu fosse falso e dissimulado e fingido?
(Ela não responde – talvez com vontade de gritar que sim, que preferia a falsidade e a dissimulação e o fingimento à indiferença, à apatia; fecha os olhos durante um momento, respira fundo; Ele observa-a, atento e curioso. Depois, muito mais tarde, quando percebe que o diálogo terminou, regressa à leitura.)