(O carro
acabou de parar num semáforo; pessoas atravessam a passadeira, apressadas e
rígidas, robóticas. No interior do carro, ambas as mulheres permanecem em
silêncio, olhando em frente, apáticas e indiferentes, distantes; sós.)
FILHA (tom
mecânico, frio): Estava aqui a pensar, a tentar lembrar-me. (Hesita;
baixa um pouco a voz.) Quando foi a última vez em que me disseste algo
importante? Algo verdadeiramente definitivo e relevante? Algo decisivo para
mim, para a minha vida, para o meu futuro? Algo que fizesse a diferença.
(Após uma pausa, tentando controlar-se.) Quando?
MÃE (olhando
o vermelho do semáforo; tom ligeiramente abstraído, quase indiferente, quase
desinteressado, quase displicente): Não me lembro.
FILHA (pensativa):
Eu também não.
(O semáforo
muda para verde mas a Filha, que está ao volante, não se mexe; ouve-se uma
buzina e depois outra e depois outra.)