"Desequilibra-me o caminho por onde insistes em me levar. Desconheço a melhor maneira de o percorrer ou se chegará a ter um fim. Perseguem-me os olhos que sempre foram calor, libertando-me na esperança de nunca me verem partir. Onde já tudo foi pressa, agora, reside a lentidão. Calma que prossegue numa réstia de vontade de avançar.
Talvez desconheças, mais do que eu, esta viagem. Talvez me tenhas arrastado sem dares conta que o fizeste. Movimentos em sentidos opostos deixam-me entre paragens que me fazem despertar. Olho à volta e desconheço onde estou, ou qual parte de mim aqui se encontrará. Existirá um lugar onde permanecemos inteiros? Algum lugar de onde nunca almejamos sair? Onde estás quando te chamo? Onde estás quando me abandonas ao frio, sem uma mão para segurar, petrificada no receio de ignorar se vais voltar? A espera numa bipolaridade de emoções que arrasam o que neste instante se ergueu.
Chegará o instante em que a alma abandona o corpo, em que regressarei sozinha de ti mas mais comigo do que nunca. Coração que acredita é impossível de abismar. Outros serão o abismo de si mesmo, arruinados na luxúria da própria contemplação. Corações que batem para se sentirem respirar desconhecendo que existir é aumentar respirações.
Há dimensões que só na humildade seremos capazes de alcançar. O meu mundo tão maior do que o teu. Como se vive numa loucura impossível de controlar? Perdes-te numa não semelhança que persistes em perscrutar criando a ilusão que a perdida sou eu. Imperfeições revestidas na perversidade de não se conseguirem inverter. Sentidos, que ferem pela mágoa de não conceberem o sentir, anestesiam cada uma das partes que mais faziam viver.
Fica. Fica no limite que não te cansas de dilatar. Não se retorna ao que está cada vez mais longe…"
Texto de Catarina Vale