(Ela está na casa de banho, em frente ao espelho, a maquilhar-se; ele aproxima-se e olha-a.)
ELE (tom impaciente): Despacha-te lá, que estamos atrasados. (Afasta-se, sem aguardar uma resposta.)
(Ela suspende o gesto e olha-se ao espelho, apática; depois, sem desviar o olhar do seu reflexo, pousa o batom. E assim permanece, estática, até ele regressar um pouco mais tarde.)
ELE (de novo à porta, irritado): Então?
ELA (tom monocórdico e distante, sem desviar o olhar do espelho, de si própria): Todos os sábados é a mesma coisa, semana após semana após semana. Já reparaste? (Ele olha-a com apreensão.) Jantamos fora, num restaurante que escolhes e onde passo duas horas a mastigar e a sorrir e a ouvir-te. Depois, levas-me a um bar qualquer, onde te exibes fingindo que sabes cantar, sempre as mesmas músicas, porque todos os sítios têm a porcaria dos mesmos cd’s de karaoke; e eu a ver-te actuar, a esforçar-me por rir bem alto, por apresentar gargalhadas, porque sei que é disso que precisas. (Ele continua a olhá-la, agora incrédulo.) Depois, por fim, trazes-me para casa e fodes-me, de forma competente mas desapaixonada e quase indiferente, como se te importasse pouco o meu prazer. (Cala-se e arrasta o silêncio, sabendo que ele não o interromperá; por fim, encara-o e olha-o sem antagonismo ou desafio.) É isto que tens para me dar? Apenas isto? Jantares insípidos, gargalhadas fingidas, fodas de rotina? (Abana a cabeça, triste.) Nada mais? (Ele desvia o olhar.) Porque se é, talvez não valha a pena apressar-me, não achas?
ELE (tom impaciente): Despacha-te lá, que estamos atrasados. (Afasta-se, sem aguardar uma resposta.)
(Ela suspende o gesto e olha-se ao espelho, apática; depois, sem desviar o olhar do seu reflexo, pousa o batom. E assim permanece, estática, até ele regressar um pouco mais tarde.)
ELE (de novo à porta, irritado): Então?
ELA (tom monocórdico e distante, sem desviar o olhar do espelho, de si própria): Todos os sábados é a mesma coisa, semana após semana após semana. Já reparaste? (Ele olha-a com apreensão.) Jantamos fora, num restaurante que escolhes e onde passo duas horas a mastigar e a sorrir e a ouvir-te. Depois, levas-me a um bar qualquer, onde te exibes fingindo que sabes cantar, sempre as mesmas músicas, porque todos os sítios têm a porcaria dos mesmos cd’s de karaoke; e eu a ver-te actuar, a esforçar-me por rir bem alto, por apresentar gargalhadas, porque sei que é disso que precisas. (Ele continua a olhá-la, agora incrédulo.) Depois, por fim, trazes-me para casa e fodes-me, de forma competente mas desapaixonada e quase indiferente, como se te importasse pouco o meu prazer. (Cala-se e arrasta o silêncio, sabendo que ele não o interromperá; por fim, encara-o e olha-o sem antagonismo ou desafio.) É isto que tens para me dar? Apenas isto? Jantares insípidos, gargalhadas fingidas, fodas de rotina? (Abana a cabeça, triste.) Nada mais? (Ele desvia o olhar.) Porque se é, talvez não valha a pena apressar-me, não achas?