Corro em silêncio, com vigor mas sem desespero, sem aflição; sei que a minha vida talvez dependa do sucesso desta corrida mas tento esquecê-lo, tento não pensar nisso, tento efectivamente acreditar que não importa, que nunca importou. A qualquer momento poderá chegar o tiro que me perfurará a carne e atirará ao chão, fazendo-me deslizar pela mesma terra que agora piso, fazendo-me engolir a poeira provocada pela minha queda. E, nesse caso, estes serão os meus últimos instantes de vida: suponho que me agrada que passem assim, frenéticos e tensos, ansiosos, plenos; livres.
Também pode acontecer que o tiro não chegue a tempo de me derrubar; e então continuarei simplesmente a correr, sentindo o frio da noite arranhando-me o rosto, os músculos das pernas doridos, a garganta seca, o riso a crescer e crescer e crescer dentro de mim, a querer explodir, libertar-se. Serão, então, segundos frenéticos e tensos, ansiosos, plenos; livres. Mas também consequentes.
Continuo a correr, talvez continue para sempre.
Também pode acontecer que o tiro não chegue a tempo de me derrubar; e então continuarei simplesmente a correr, sentindo o frio da noite arranhando-me o rosto, os músculos das pernas doridos, a garganta seca, o riso a crescer e crescer e crescer dentro de mim, a querer explodir, libertar-se. Serão, então, segundos frenéticos e tensos, ansiosos, plenos; livres. Mas também consequentes.
Continuo a correr, talvez continue para sempre.