Uma espécie de western: fascículo # 08

Começa a amanhecer, por fim. O cavalo já revela algum cansaço, ou talvez apenas fome; e aborrece-me esta acusação silenciosa, esta responsabilidade implícita. Sinto que devo fazer algo, agir; que devo tomar uma decisão, definir um objectivo.
Penso nisso, tentando distrair-me, esforçando-me para me manter vigilante e atento; ou, pelo menos, acordado. Objectivos. Poderia ser algo simples e pragmático; por exemplo: sobreviver até ao fim do dia. Ou algo mais ambicioso e indefinido, mais empírico: ter um dia bom. E mal me ocorre essa ideia, esse conceito – dia bom –, desvio de imediato o rumo dos pensamentos: o que poderia ser um dia bom?
Prosseguimos a caminhada, cansados e tristes. Há uma neblina algo fantasmagórica que se desprende do chão, agora que a noite se dissipa; daqui pouco, nascerá o sol; e as minúsculas gotículas de água que agora pairam indolentemente no ar brilharão durante um instante, quando forem trespassadas pelos raios de luz, e implodirão; será bonito, suponho.
Sim, preciso de definir um objectivo; definir uma distracção. Adiar.