O sangue continua a cair, molhando a areia acastanhada, cobrindo a poeira; toco-o e sinto-me desconfortável. Movo-me, ligeiramente. E então, no mesmo instante, ouço o segundo tiro; como antes, não sinto nenhum impacto no corpo; mas, agora, já não consigo ter a certeza de não ter sido atingido: talvez uma nova bala tenha efectivamente violado o meu corpo; talvez a minha carne tenha perdido a capacidade de perceber quando é trespassada – ou simplesmente tocada; ou pior: talvez já esteja morto. E a morte seja, apenas, isto: a incapacidade de sentir.
Mas suspeito que não. Porque quando dou por mim, tenho a pistola na mão e estou a disparar, tentando simplesmente acertar no horizonte, no vazio, no desconhecido; ou em nada. Faço-o involuntariamente, sem que tenha havido uma decisão consciente, uma vontade, um objectivo. E sabe bem, esta acção espontânea e involuntária, independente da reflexão, da decisão; como um animal.
Mas suspeito que não. Porque quando dou por mim, tenho a pistola na mão e estou a disparar, tentando simplesmente acertar no horizonte, no vazio, no desconhecido; ou em nada. Faço-o involuntariamente, sem que tenha havido uma decisão consciente, uma vontade, um objectivo. E sabe bem, esta acção espontânea e involuntária, independente da reflexão, da decisão; como um animal.